TITUS
Text collection: O.Pt.Corp. 
Old Portuguese Corpus


On the basis of various editions
electronically prepared by Gisella Ferraresi, Esther Rinke and Maria Goldbach, Hamburg 2005;
TITUS version by Jost Gippert,
Frankfurt a/M, 28.2.2010





Text: Doc._1 
Document I

1192 MARÇO -- Auto de partilhas entre Rodrigo Sanches e seus irmãos Vasco, Mendo e Elvira.

B) T.T. - CR., most. de Vairão, m. 2, n.° 26, versão dos fins do séc. XIII (Est. 1).

On the basis of the edition by
P. Avelino de Jesus da Costa,
Os mais antigos documentos escritos em Português, in:
Revista portuguesa de história, N° 17,
Faculdade de Letras de Coimbra, 1979, pp. 263-340,

electronically prepared by Gisella Ferraresi, Esther Rinke and Maria Goldbach, Hamburg 2005;
TITUS version by Jost Gippert,
Frankfurt a/M, 28.2.2010




Publ.:
   J. Pedro Ribeiro, Dissertações Chronologicas, 1 (Lisboa, 1810), p. 275, doc. 61; 2.a ed. (L., 1860), pp. 284-285, doc. 61 [Transcreveu-o também no Ms. 701 da Bibl. Geral da Univ. de Coimbra, pp. 11-12].
   Documentos para a História Portugueza, p. 210, doc. 255.
   J. Leite de Vasconcelos, «Dois textos portugueses da Idade Média», in Bausteine zur romanische Philologie (Halle, 1905), pp. 676-672.
   J. Joaquim Nunes, Chrestomatia Archaica (L., 1906), pp. 11-12.
   Pedro de Azevedo, «Documentos de Vairão (séc. XII)», in Revista Lusitana, XIV (L. 1911), p. 257, doc. 6.
   História da Literatura Portuguesa Ilustrada, dirigida por A. Forjaz de Sampaio, 1 (Lisboa, 1929), p. 9, texto e gravura.
   J. Pereira Tavares, Selecta de Textos Arcaicos, 3.a ed. (Porto, 1943), pp. 197-198.
   Idem, Antologia de Textos Medievais (L., 1957), pp. 193-194.
   Kimberley S. Roberts, An Anthology of Old Portuguese, p. 33.
   Feliciano Ramos, História da Literatura Portuguesa, 3.a ed. (Braga, 1950), p 10.
   A. Ribeiro da Cunha, A Lingua e a Literatura Portuguesa (Braga, 1952), p. 33.
   J. Pedro Machado, «Vocabulário português de 1192-1193», in Revista de Portugal - Série A (Lingua Portuguesa), XX (L., 1955), pp. 329-330.
   Corrêa de Oliveira e Saavedra Machado, Textos Portugueses Medievais (Coimbra, 1959), pp. 387-390.
   Valeria Gutu Romalo, «Limba portughezã», separata de Chrestomatie romanicã, 1 (Bucareste, 1962).


Ref.:
   L. F. Lindley Cintra, «Les anciens textes portugais non littéraires», in Revue de Linguistique Romane, XXII (Estrasburgo, 1963), pp. 42 e 48-50.
   P. Avelino de Jesus da Costa, «Anuario de Estudios Medievales», in Revista de Guimarães, LXXV (Guimarães, 1965), pp. 11-13 da separata.




Item: 701_11-12 
Line: 1    
In Ch(risti) n(omi)ne, am(en). Hec e(st) notitia de p(ar)tiçon
   
(e)*1 de deuison que fazem(os)*2 antre nos des (her)dam(en)tus e dus
   
cou[tos e]*3 das onrras
Line: 2    
e dou<s> padruadig(os) das eygreygas que forum de nossu
   
padre e de nossa madre, en esta maneira q(ue) Rodrigo
Line: 3    
Sanchiz ficar por sa p(ar)ticon na q(ui)nta do couto de Víítu-
   
rio e na q(ui)nta do padroadigo dessa eygreyga en todol(os)
Line: 4    
us h(er)dam(en)tus do couto e de fora do couto. Vu(a)sco
   
Sanchiz ficar por sa p(ar)ticon na onrra d'Ulueira e no padroa-
Line: 5    
digo dessa eygreyga en todol(os) h(er)dam(en)tos d'Olveira
   
e en nu casal de Carapezus q(ue) chamam da Vluar e en outro
Line: 6    
casal en Agiar que chamam Q(ui)ntáá. Meen Sanchiz ficar
   
por sa p(ar)ticon na onrra de Carapezus e nus outr(os)
Line: 7    
h(er)dam(en)tus e nas duas p(ar)tes do padroadigo dessa
   
eygreyga e no padroadigo da eygreyga de Creysemil e
Line: 8    
na onrra e no h(er)dam(en)to d'Arguiffi e no h(er)dam(en)to
   
de Lauoradas e no padroadigo dessa eygreyga. Eluira
Line: 9    
Sanchiz ficar por sa p(ar)ticon nos h(er)dam(en)tos de Cente-
   
gaus e nas tres q(ua)rtas do padroadigo dessa eygreyga
Line: 10    
e no h(er)dam(en)to de Creyximil assi us das Sestas come
   
u outro h(er)dam(en)to. Estas p(ar)ticoens e diuisoes fazem(os) an-
Line: 11    
tre nos q(ue) uallam por en s(e)c(u)la s(e)c(u)lor(um), am(en).
   
Facta karta m(en)sse M(a)rcíí E(ra) M.a CC.a XXX.a. Vaa<s>co
   
Suariz
Line: 12    
ts., V(er)muíí Ordoniz ts., Meen Farripas ts., Gonsaluũ
   
U(er)muiz ts., Gil Diaz ts., Dom M(a)rtio
Line: 13    
ts., M(a)r(ti)m P(er)iz ts., Don St(e)ph(a)m Suariz ts. Ego
   
I(o)h(an)n(e)s M(e)n(en)di p(res)b(iter) notauit.

Item: n. 
Line: 1    
Substituí o sinal tironiano 7 por (e), porque o texto traz a copulative e nos outros casos. ^
Line: 2    
Il Como o escriba usou quási indistintamente os e us: dos e dus (linha 1), herdamentos (linhas 5 e 9) e herdamentus (linhas 1, 4 e 7), preferi desdobrar em os o sinal tironiano de us e os, por esta última forma ser a usada no português. ^
Line: 3    
Uma mancha no pergaminho torna ilegíveis as últimas quatro letras. ^




Text: Doc._2 
Document II

1193 SETEMBRO - Elvira Sanches deixa o seu corpo e todos os seus bens ao mosteiro de Vairão (c. Vila do Conde).

B) T.T. - CR., most. de Vairão, m. 2, n.° 28, versão dos fins do séc. XIII (Est. 11).

On the basis of the edition by
P. Avelino de Jesus da Costa,
Os mais antigos documentos escritos em Português, in:
Revista portuguesa de história, N° 17,
Faculdade de Letras de Coimbra, 1979, pp. 263-340,

electronically prepared by Gisella Ferraresi, Esther Rinke and Maria Goldbach, Hamburg 2005;
TITUS version by Jost Gippert,
Frankfurt a/M, 28.2.2010



Publ.:
   J. Leite de Vasconcelos, Esquisse d'une Dialectologie Portuigaise (Paris, 1901), p. 14; 2.a ed. (Lisboa, 1970), p. 15.
   Idem, Textos Arcaicos * (L., 1905), pp. 13-14; 2.a ed. (L. 1907), pp. 13-14; 3.a ed. (L. 1923), pp. 14-15 [Sairam primeiro na Rev. Lus., VIII (L., 1903-1905), e nesta o Testamento de 1193 está na p. 190];
   Idem, «Dois textos portugueses da Idade Média», in Bausteine zur romanische Philologie (Halle, 1905), pp. 676-672.
   Pedro de Azevedo, «Documentos de Vairão (séc. XII)», in Rev. Lus., XIV (L., 1911), p. 258, doc. 7.
   J. Pereira Tavares, Selecta de Textos Arcaicos, 3.a ed. (Porto, 1943), p. 198;
   Idem, Antologia de Textos Medievais (L., 1957), pp. 194-195;
   Kimberley S. Roberts, An Anthology of Old Portuguese, p. 34;
   Feliciano Ramos, Hist. da Lit. Portuguesa, 3.a ed. (Braga, 1950), p. 11;
   J. Pedro Machado, «Vocabulário português de 1192-1193», in Revista de Portugal - Série A (Lingua Portuguesa) XX (L., 1955), p. 330;
   Corrêa de Oliveira e Saavedra Machado, Textos Portagueses Medievais (Coimbra, 1959), 390-391.


Ref.:
   L.F. Lindley Cintra, «Les anciens textes portugais non littéraires», in Revue de Linguistique Romane, XXII (Estrasburgo, 1963), pp. 42 e 48-50.
   P. Avelino de Jesus da Costa, «Anuario de Estudios Medievales», in Rev. de Guimarães, LXXV (G., 1965), pp. 11 e 13-14 da separata.




Item: r. 
Line: 1    
In Ch(risti) n(omi)ne, am(en). Eu Eluira Sanchiz offeyro o
   
meu corpo aas virtudes de Sam Saluador do mo(c)n(steyro) de Vayram
   
(e)*1 offeyro com o meu corpo
Line: 2    
todo o h(er)damento que eu ey en Centegãus e as tres quartas
   
do padroadigo dessa eygleyga (e) todo hu h(er)dam(en)to d(e) Crexe-
   
mil assy
Line: 3    
us das Sestas como todo u outro h(er)dam(en)to que uaia*2
   
u moensteyro de Vayram por en s(e)c(u)la s(e)c(u)lor(um), am(en).
   
F(a)c(t)a karta m(en)se S(ep)t(em)b(e)r E(ra)
Line: 4    
Ma CCa XXX. I.a. M(e)n(en)d(us) Sanchiz ts., Steph(a)m
   
Suariz ts., Vermuíí Ordoniz ts., *3 Sancho Diaz ts., Gonsaluu Diaz
   
testes. Ego
Line: 5    
Gonsalu(us) Pet(ri) p(res)b(iter)r notauit.


Item: n. 
Line: 1    
Substituí o sinal tironiano 7 por (e), porque foi a copulativa e que o notário usou na segunda linha: «e as tres...» ^
Line: 2    
Deve ser uala (= valha para o mosteiro...), porque no«Auto de partilhas» de 1192 uma expressão equivalente: «que uallam por en secula seculorum, amen», ou, então, «que vão para o mosteiro». ^
Line: 3    
As duas últimas testemunhas subscreveram também o «Auto de partilhas» de 1192. ^






Text: Doc._3 
Document III

[1210, ABRIL-SETEMBRO (?)] - Noticia das malfeitorias feitas a Lourenço Fernandes da Cunha por D. Sancho I e por Vasco Mendes, por ordem do mesmo rei.

A) T.T. - CR., most. de Vairão, m. 2, n° 39. Or. car. (Est. III)

On the basis of the edition by
P. Avelino de Jesus da Costa,
Os mais antigos documentos escritos em Português, in:
Revista portuguesa de história, N° 17,
Faculdade de Letras de Coimbra, 1979, pp. 263-340,

electronically prepared by Gisella Ferraresi, Esther Rinke and Maria Goldbach, Hamburg 2005;
TITUS version by Jost Gippert,
Frankfurt a/M, 28.2.2010



Publ.:
   J. Pedro Ribeiro, Dissertações Chronologicas, 1, 1.a ed., pp. 254-255, n.° 43; 2.a ed., pp. 262-263, n.° 43.


Ref.:
   A. Herculano, História de Portugal, 9.a ed., IV, pp. 339-340;
   L. Gonzaga de Azevedo, História de Portugal, VI (Lisboa, 1944). pp. 157-160.



Item: r. 
Line: 1    
H(ec) [est] mentio de malefactoria q(ua)m rex donn(us) Sanci(us)
   
fec(it) donno Laurëtio F(er)nandi (et)*1 p(re)cep(it) fac(er)e q(uo)d
   
ei fecit
Line: 2    
Velasc(us) Men(en)di. In p(ri)mis accepit ei LXX.a modios
   
int(er) panë (et) uinũ et XXV int(er) archas (et)
Line: 3    
cupas et X.a scutos et II.as(??) culcitres (et) II plumacios et int(er)
   
scannos (et) lectos XI et calda-
Line: 4    
rias (et) m(en)sas (et) scutellas (et) uasos multos (et) capellos
   
de ferro (et) porcos decë (et) oues (et) capras
Line: 5    
et XV m(o)r(a)b(itino)s, q(ui) leuauer(unt) de suis hominib(us)
   
q(ui) spectauer(unt) et multa alia arma. Sup(er) hoc depo-
Line: 6    
pulauer(unh) ei LXX.a casalia, unde est p(er)ditũ p(re)sentë
   
fructũ q(uo)d in eis habebat (et) q(uo)d debet euenire.
Line: 7    
(et) C homines d(e) maladia, q(ui) ita p(er)dider(unt). Deinde
   
miser(unt) ignë in sua q(ui)ntana de Cuina (et) cre-
Line: 8    
mauer(unt) totã q(uia) pre igne nichil ibi remansit. Et dir-
   
ribauer(unt) de ipsa turre q(ua)ntã potuer(unt)
Line: 9    
(et) q(uo)d n(on) potuer(unt) miser(unt) in ignë q(ui)
   
findidit, q(uo)d nũq(ua)m potest e(ss)e em(en)data. Et etiã magis
Line: 10    
custaret fac(er)e q(uo)d mille (et) D m(o)r(a)b(itino)s.
   
(Et) q(ua)nta casalia habebat corã ipsa dicta q(ui)n-
Line: 11    
tana cremauer(unt) ea. Sup(er) hoc acceper(unt) ei unũ
   
sarracenũ bonũ.
Line: 12    
Et sciãt o(mne)s homines q(ui) hãc sc(ri)pturã uid(er)int
   
q(uo)d ego Laurëti(us) F(er)nandi n(on) feci nec dixi*2 q(uo)d recepissë
Line: 13    
hãc destructionë (et) malefactoriã q(uo)d recepi.


Item: n. 
Line: 1    
Substitui o sinal tironiano / por (et) e transcrevi et, quando assim está expresso no texto. ^
Line: 2    
Segue-se uma rasura, onde devia estar a abreviatura de nihil. ^





Text: Doc._4 
Document IV

[1214-1216 (?)] - Notícia das malfeitorias de que foi injustamente vítima Lourenço Fernandes da Cunha.

A) T.T. - CR., most. de Vairão, m. 2, n.° 40. Or. car. (Ests. IV e V).

On the basis of the edition by
P. Avelino de Jesus da Costa,
Os mais antigos documentos escritos em Português, in:
Revista portuguesa de história, N° 17,
Faculdade de Letras de Coimbra, 1979, pp. 263-340,

electronically prepared by Gisella Ferraresi, Esther Rinke and Maria Goldbach, Hamburg 2005;
TITUS version by Jost Gippert,
Frankfurt a/M, 28.2.2010



Publ.:
   J. Pedro Ribeiro, Dissertaçoes Chronologicas, I (L., 1810), pp. 273-275, doc. 60; 2.a ed. (L., 1860), pp. 282-284, doc. 60 (Transcreveu-a no Ms. 702 da Bibl. Geral da Univ. de Coimbra, pp. 10-13, com falhas na leitura).
   A. Herculano, História de Portugal, 9.a ed., IV, p. 397, gravura das primeiras 16 linhas.
   J. Leite de Vasconcelos, Textos Arcaicos (L., 1905) *, pp. 14-15; 2.a ed. (L., 1907), pp. 14-15; 3.a ed. (L., 1923), pp. 15-16 (transcreve apenas as linhas 11 a 19) [* Sairam primeiro na Rev. Lus., VIII (L., 1903.1905), vindo o extracto da Noticia nas pp. 190-191];
   Pedro de Azevedo, «Nova leitura da Noticia de torto», in Rev. Lus., XVII (L., 1914), pp. 204-206.
   História da Literatura Portuguesa Ilustrada, dirigida por A. Forjaz de Sampaio, I (Lisboa, 1929), p. 13, texto segundo a leitura de Pedro de Azevedo, e gravura do anverso.
   História de Portugal, dirigida por Damião Peres, II (Barcelos, 1929), pp. 562-563, as gravuras do anverso e reverso.
   Feliciano Ramos, História da Literatura Portuguesa, 4.a ed. (Braga, 1960), pp. 15-18.
   Corrëa de Oliveira e Saavedra Machado, Textos Portugueses Medievais (Coimbra, 1959), pp. 391-393, segundo a leitura de Pedro de Azevedo, seguida de comentário, pp. 393-399; na 2.a e 3.a ed. (C., 1967 e 1968), pp. 404 412, e na ed. de 1973, pp. 408-416.


Ref.:
   L. F. Lindley Cintra, «Les anciens textes portugais non littéraires», pp. 41, 48 e 49.
   P. Avelino de Jesus da Costa, «Anuario de Estudios Medievales», p. 14 da separata.




Item: r. 
Line: 1    
D(e) noticia d(e) torto que fecer(um) a Laurëci(us) Fernãdiz
   
por plazo que fec(e) Gõcauo
Line: 2    
Ramiriz antre suos*1 filios e Lourëço Ferrnãdiz q(ua)le podedes
   
saber e oue au(e)r *2 d(e) erdad(e)
Line: 3    
e d'au(e)r tãto q(uo)me uno d(e) suos filios d(e) aq(uan)to
   
podesë au(e)r d(e) bona d(e) seuo pater e fiolios seu
Line: 4    
pater e sua mater. E d(e)pois fecer(um) plazo nouo e cõuë
   
uos a saber q(ua)le in ille se<e>m
Line: 5    
taes firmam(en)tos q(ua)les podedes saber *3. Ramiro Gõcaluiz
   
e Gõcaluo Gõca[luiz]
Line: 6    
Eluira Gõcaluiz forũ fiadores d(e) sua irmana que orgase aqu[e]le
   
plazo come illos.
Line: 7    
Sup(er) isto plazo ar fe(ce)r(um) suo plecto. E a maior aiuda
   
que illos hic cõnocer(um) que les
Line: 8    
acanocese Laurëzo Ferrnãdiz sa irdad(e) p(er) p(lec)to*4 que
   
a teuese o abate d(e) S(an)c(t)o Martino
Line: 9    
que como uëcesë*5 que asi les dese d(e) ista o abade. E que
   
nunq(ua) illos lecxasë
Line: 10    
daquela irdad(e)*6 seu mãdato. Se a lexarë itregarë ille
   
d(e) oct(ra) que <li> plaza.
Line: 11     
E d'au(e)r que ouer(um) d(e) seu pat(e)r nu[n]q(uam)*7 se
   
li id(e) der(um) parte. Deu*8 do Gõçauũ
Line: 12    
o a Laurëco Fernãdiz e Marti Gõc[a]luiz XII*9 casaes por
   
arras d(e) sua auóó.
Line: 13    
E filar(um)li illos ind(e) VI casales*10 c(um) torto. E podedes
   
saber como man-
Line: 14    
do Gõcauo a sua morte. D(e) XVI casales d(c) Ueracin
   
que <d(e)> fructar(um) e que li
Line: 15    
nunq(uam) id(e) der[um] q(ui)nnõ. E d(e) VII e medio
   
casaes antre Coina e Bastuzio und(e) li
Line: 16    
nunq(uam) der(um) q(ui)niõ. E d(e) tres i(n) Tesuosa und(e)
   
li nu[n]q(ua) ar der(um) nada. E IIos, i(n) Figeeree-
Line: 17    
do unnd(e) nunq(uam)*11 li der(um) q(ui)nõ. E IIos i(n)
   
Tamal ũd(e) li n(om) ar der(um) q(ui)nõ. E da sena-
Line: 18    
ra d(e) Coina ũd(e) li n(om) ar der(um) q(ui)nõ. E d'uno
   
casal d(e) Coina que leuar(um) id(e) III anos
Line: 19    
o frouctu c(um) torto. E por istes tortos que li fecer(um)
   
tem q(ua) a seu plazo quebrãtado
Line: 20    
e q(ua) li o deuë por sanar. E d(e)pois ouer(um) seu mal
   
e meteu o abad(e) paz a[n]tre illes
Line: 21    
i(n) no Carualio d(e) Laureedo. E rogou o abate tãto que
   
beiso c(um) illes. E der(um)li
Line: 22    
XVIIII morabitinos q(ui) li filar(um). E d(e)pos iste p(lec)to*12
   
pre[n]d(e)r(um)li*13 o seruical otro
Line: 23    
om[ee] d(e) sa casa e troser(um)no XVIIII dias p(er) mõtes
   
e fecer(um)les máá prisõ
Line: 24    
p(er) que leuar(um) deles q(uan)to poder(um) au(e)r.
   
E d(e)pois li d(e)sũro Gõcauo Gõcauiz
Line: 25    
sa fili[a] pechena*14. E irmar[um]li XIII casales und(e) perdeu
   
fructu. E isto
Line: 26    
fui d(e)p<ois> que fur(um) fíídos ant'o abate. E d(e)pois
   
que fur(um) ifiados por iuizo d(e) ilo
Line: 27    
rec.*15 E nũq(ua) ille fez(e) neun mal por todo aqueste e fezeles
   
taes agudas*16
Line: 28    
q(ua)les aqui ouireedes. Sup(er) sua aguda fez testiuigo
   
c(um) Gõcauo Cebolano.
Line: 29    
E sup(er) sa aiuda ar fuili a casa e filoli q(uan)to que li agou e
   
deu a illes. E sup(er) sa
Line: 30    
aiuda oue testifigo c(um) P(e)tro Gomez omezio q<v>e li
   
custou maes ka C m(orabitinos).
Line: 31    
E sup(er) sa aiud[a] oue mal c(um) Goncaluo Gomez que li
   
custou multo da au(e)r
Line: 32    
e muita perda. E in*17 sa aiuda oue mal c(um) Go[n]caluo
   
Suariz. E in sa aiuda
Line: 33    
oue mal c(um) Ramiro Fernãdiz que li custov muito au(e)r
   
muita perda.
Line: 34    
E in sa aiuda fui IIas fezes a Coi[n]bra. E in sa aiuda dixe
   
mul[ta]s uices
Line: 35    
e ora in ista tregua fur(um) a Ueraci amazar(um)li os om(éé)s
   
erma[rum]li X casaes
Line: 36    
seu torto al rec.*18 E sup(er) s'aiud[a] mãdoe lidar seus om(éé)s
   
c[um] Mar-
Line: 37    
tin*19 I(o)h(an)n(i)s que q(ui)ra*20 d(e)sũrar sa irnmna. E cũ
   
ille e sa casa
Line: 38    
e seu pam e c(um) seu uino uëcestes uosa erdade. E ille
Line: 39    
existis d(e) sua <casa> in ipso die que uola q(ui)tar(um).
   
E ille teue a uosa
Line: 40    
rezõ. E ot(ra)s aiudas multas que fez. E plus li a custado
Line: 41    
uosa aiuda q(ua)l und(e) *21, cae d'erdad(e). E subre becio
   
e sup(er)
Line: 42    
fíím(en)to se ar q(ui)serdes ouir as desõras q<v>e ante ihc
   
fur(um)
Line: 43    
ar ouideas. Vener(um) a uila e fila[rum]li o porco ante seus
   
filios e com-
Line: 44    
erũsilo. Vener(um) alia uice er filar(um) ot(ro)*22 ante illes
Line: 45    
er comer(um)so. Vener(um) i(n) <alia> uice er filiar(um)
   
una ansar ante
Line: 46    
sa filia er comer(um)sa. I(n) alia uice ar filiar(um)li o
   
pane ante
Line: 47    
suos filios. I(n) alia uice ar ue[ne]r(um) hic er filar(um)
   
ide o uino
Line: 48    
ante illos.


Item: v. 
Line: 49    
Otra uice (?) uener(um)li filar ante seus filios q(uan)to q<v>e
   
li agar(um) i(n) quele (?)
Line: 50    
casal. E fur(um)li o uëtriar (?) e p(ren)der(um) id(c) o cõlazo
   
und(e) mamou o lec-
Line: 51    
te (?) e gacar(um)no e getar(um) i(n) t(er)ra polo cecar e le[ua]-
   
r(um) delle q(uan)to oue.
Line: 52    
I(n) alia uice ar fur(um) a Feraci*23 e p(ren)d(e)r(um) IIos
   
om(éé)s e gacarũnos e le[ua]r(um)
Line: 53    
deles q(uan)to que ouer(um). I(n) ot(ra) fice ar p(ren)der(um)
   
ot(ro)s IIos a se[u] irmano P(e)lagio
Line: 54    
Fernãdiz e iagar(um)nos. I(n) ot(ra) ue[ne]r(um) a Pegei-
   
ros (?) e leuarunso III om(éé)s*24
Line: 55    
ante P(e)lagio Fernãdiz.


Item: n. 
Line: 1    
Nesta palavra e em várias outras o s final vem na entrelinha ou em expoente, assemelhando-se ao sinal abreviativo de er. ^
Line: 2    
Na palavra au(e)r (= haver) e em outras usa um sinal abreviativo parecido com um til em posição quase vertical, podendo indicar a falta de e ou de outras letras e até silabas. ^
Line: 3    
Segue-se uma palavra rasurada. ^
Line: 4    
Em rigor, a abreviatura desta palavra devia desdobrar-se em p(re)to, mas prefiro p(lec)to, porque é este o sentido e é assim que vem, por extenso, na linha 7. ^
Line: 5    
Seguem-se, raspadas, umas letras que parecem ser oct(ra)a. ^
Line: 6    
No texto parece antes iertad(e) d(e). ^
Line: 7    
Neste caso e em outros idênticos, desdobrei a abreviatura em nunq(uam), porque a haste do q está cortada por um traço transversal a indicar falta de m, neste termo, ou de n, em q(uan)to. Faltando o traço, desdobrei em numq(ua). ^
Line: 8    
Seguem-se a Laurë traçadas e um espaço em branco. ^
Line: 9    
Segue-se um a traçado. ^
Line: 10    
Seguem-se quanto er traçadas. ^
Line: 11    
No texto está: nu nada q(uam), mas com a palavra nada traçada. ^
Line: 12    
siehe Nr. 3 ^
Line: 13    
Segue-se on traçado. ^
Line: 14    
Por pequena. ^
Line: 15    
Por rex (rei). ^
Line: 16    
Neste e cm casos idênticos, o g tem valor fricative antes de a, alternando, por isso, com i consoante: aguda e aiuda (=ajuda). ^
Line: 17    
P Aqui e nos três casos análogos seguintes, em vez de E in, poder-se-ia ler Emi. ^
Line: 18    
siehe Nr. 14 ^
Line: 19    
No texto: Marmtin. ^
Line: 20    
Por queria. ^
Line: 21    
Também pode ler-se: q(ua)li ind(e). ^
Line: 22    
Pedro de Azevedo leu «o t(riig)o». Não me parece aceitável desdobrar assim a abreviatura ot (siehe Nr. 15), cuja leitura exacta deve ser ot(ro), palavra que vem por extenso na linha 22 e em abreviatura nas linhas 5 e 6 do verso do pergaminho. A leitura ot(ro) (= outro porco) está mais de acordo com o contexto, porque o porco vem mencionado algumas palavras antes e o trigo deve estar incluído na palavra pane da linha 45. ^
Line: 23    
Por Veraci (= Varzim). ^
Line: 24    
Nas últimas cinco palavras seguimos a leitura e interpretação de Pedro de Azevedo, por estarem quase ilegíveis no original. ^





Text: Doc._5 
Document V

1214 JUNHO 27, Coimbra - Testamento de D. Afonso II. (Braga)

A) T.T. - Mitra de Braga, cx. 1, n.° 48, or. car. (Est. VI)*

On the basis of the edition by
P. Avelino de Jesus da Costa,
Os mais antigos documentos escritos em Português, in:
Revista portuguesa de história, N° 17,
Faculdade de Letras de Coimbra, 1979, pp. 263-340,

electronically prepared by Gisella Ferraresi, Esther Rinke and Maria Goldbach, Hamburg 2005;
TITUS version by Jost Gippert,
Frankfurt a/M, 28.2.2010



* No verso do pergaminho e na letra original encontra-se a seguinte rubrica: «Testam(en)tum regis d(om)ni Adefonsi s(e)c(un)dique está repetida mais abaixo, mas em sentido inverso. O testamento guarda-se actualmente no cofre.


Publ.:
   Pedro de Azevedo, «Testamento, em português, de D. Alfonso II (1214), in Rev. Lus., VIII (L., 1903-1905), pp. 80-84.
   J. Leite de Vasconcelos, Lições de Filologia Portuguesa (L., 1911), pp. 69-101; 2.a ed. (L., 1926), pp. 67-100, com amplo comentário.
   Feliciano Ramos, História da Literatura Portuguesa, 4.a ed. (Braga, 1960), pp. 18-22.
   Corrêa de Oliveira e Saavedra Machado, Textos Portugueses Medievais, 2.a e 3.a ed. (C. 1967 e 1968), pp. 395-404, e na ed. de 1973, pp. 399-408, com comentário.
   P. Avelino de Jesus da Costa, Álbum de Paleografia e Diplomática Portuguesas, I, 3.a ed. (Coimbra, 1976), grav. 66.


Ref.:
   L.F. Lindley Cintra, «Les anciens textes portugais non littéraires», pp. 41-43 e 47.



Item: r. 
Line: 1    
En'o*1 nome de Deus. Eu rei don Afonso pela gracia de Deus
   
rei de Portugal, seendo sano e saluo, temëte o dia de mia morte, a saude
   
de mia alma e a proe de mia molier raina dona Orraca e de me(us)
   
filios e de me(us) uassalos e de todo meu reino fiz mia mãda p(er) q(ue) de-
Line: 2    
pos mia morte mia molier e me(us) filios e meu reino e me(us)
   
uassalos e todas aq(ue)las cousas q(ue) De(us) mi deu en poder sten
   
en paz e en folgãcia. P(ri)meiram(en)te mãdo q(ue) meu filio infante
   
don Sancho q(ue) ei da raina dona Orraca agia meu reino enteg(ra)-
   
m(en)te e en paz. E ssi este for
Line: 3    
morto sen semmel, o maior filio q(ue) ouuer da raina dona
   
Orraca agia o reino entegram(en)te e en paz. E ssi filio barõ ouuer-
   
mos, a maior filia q(ue) ouuermos agia'o. E ssi no tëpo de mia morte
   
meu filio ou mia filia q(ue) deuier a reinar ouuer reuora, segia en poder
Line: 4    
da raina sa madre e meu reino segia en poder da raina e de
   
me(us) uassalos ata q(uan)do agia reuora. E ssi eu for morto, rogo
   
o apostoligo*2 come padre e senior e beigio a t(er)ra ante seus pees
   
q(ue) el recebia en sa comëda e so seu difindemëto a raina e me(us)
   
filios e o reino. E ssi eu
Line: 5    
e a raina formos mortos, rogoli e pregoli q(ue) os me(us) filios
   
e o reino segiã en sa comëda. E mãdo da dezima dos morauidiis e dos
   
dieiros q(ue) mi remaserũ de parte de meu padre q(ue) en Alcobaza
   
e do outr'auer mouil q(ue) i posermos pora esta dezima q(ue) segia
   
partido pelas manus
Line: 6    
do arcebispo de Bragaa e do arcebispo de Santiago e do bispo
   
do Portu e de Lixbona e de Coibria e de Uiseu e de Lamego e da Idania
   
e d'Euora e de Tui e do tesoureiro de Bragaa. E out(ro)ssi mãdo
   
das dezimas das luctosas e das armas e dout(ra)s dezimas q(ue) eu
   
tenio apartadas en te-
Line: 7    
souros per meu reino, q(ue) eles as departiã assi como uirë
   
por derecto. E mãdo q(ue) o abade d'Alcobaza lis de aq(ue)sta dezima
   
q(ue) el ten ou teiuer e eles as departiã segũdo De(us) como uirë por
   
derecto. E mãdo q(ue) a raina dona Orraca agia a meiadade de todas
   
aq(ue)lias cousas mouils q(ue) eu ouuer
Line: 8    
a mia morte, exetes aq(ue)stas dezimas q(ue) mãdo dar por
   
mia alma e as out(ra)s q(ue) tenio en uoontade por dar por mia alma
   
e non'as uiier a dar. Et mãdo q(ue) si a raina morrer en mia uida
   
q(ue) de todo meu auer mouil agia ende a meiadade. Da out(ra)
   
meiadade solten ende p(ri)meiram(en)te
Line: 9    
todas mias devidas e do q(ue) remaser fazam en[de] t(re)s
   
partes e as duas partes agiã me(us) filios e mias filias e departiãse
   
ent(r'e)les igualm(en)te. Da t(er)ceira o arcebispo de Bragaa e o arce-
   
bispo de Santiago e o bispo do Portu e o de Lixbona e o de Coibria
   
e o de Uiseu e o d'Euora fazã desta
Line: 10    
guisa: q(ue) u q(ue)r q(ue) eu moira q(ue)r en meu reino
   
q(ue)r fora de meu regno fazam aduzer meu corpo p(er) mias custas
   
a Alcobaza. E mãdo q(ue) den a meu senior o papa III m(o)r(auidiis)*3,
   
a Alcobaza II mr. por meu añiu(er)sario, a Santa Maria de Rocamador II
   
mr. por meu añiu(er)sario
Line: 11    
a Santiago de Galicia II CCC mr. por rneu añiu(er)sario, ao
   
cabidoo da Séé da Idania mill(e) mr. por meu añiu(er)sario, ao moes-
   
teiro de San Gurge*4 D mr. por meu añiu(er)sario, ao moesteiro de
   
San Uicëte de Lixbona D mr. por meu añiu(er)sario, aos caonigos
   
de Tui mill(e)
Line: 12    
mr. por meu añiu(er)sario. E rogo q(ue) cada un destes
   
añiu(er)sarios fazam sëp(re) no dia de mia morte e fazam t(re)s come-
   
morazones en t(re)s partes do ano e cada dia fazam cantar una missa
   
por mia alma por sëpre. E ssi eu en mia uida der estes añiu(er)sarios,
   
mãdo q(ue) orem por mi co-
Line: 13    
me por uiuo ata en mia morte e depos mia morte fazam estes
   
añiu(er)sarios e estas comemorazones assi como suso e nomeado, assi
   
como fazem en'osout(ro) slogares u ia die meus añiu(er)sarios. E mãdo
   
q(ue) den ao maestre e aos freires d'Euora D mr. por mia alma, ao
   
comen-
Line: 14    
dador e aos freires de Palmela D mr. por mia alma. E mãdo
   
q(ue) o q(ue) eu der daq(ue)sta mãda en mia vida q(ue) non'o busque
   
nenguu depos mia morte. E o q(ue) remaser daq(ue)sta mia t(er)cia
   
mãdo q(ue) segia partido igualmëte en cinq(ue) partes das quaes una
   
den a Alcobaza u
Line: 15    
mando geitar meu corpo. A out(ra) ao moesteiro de Santa
   
Cruz, a t(er)ceira aos Tëpleiros, a q(ua)rta aos Espitaleiros, a q(ui)nta
   
den por mia alma o arcebispo de Bragaa e o arcebispo de Santiago
   
e os cinque bispos q(ue) suso nomeamos segũdo Deus. E den ende
   
aos omees d'ordin
Line: 16    
de mia casa e aos leigos <a> q(ue) eu galardoei seu
   
servizo assi com'eles uirem por guisado. E as out(ra)s duas partes
   
de toda mia meiadade segiã departidas igualm(en)te ent(re)*5 me(us)
   
filios e naias filias q(ue) ouuer da raina dona Orraca assi como suso e
   
dito. E mãdo q(ue) aq(ue)ste auer
Line: 17    
dos me(us) filios q(ue) o teniã aq(ue)stes dous arcebispos
   
aq(ue)stes cinq(ue) bispos ata q(uan)do agiã reuora. E a dia de mia
   
morte se alguus de me(us) filios ouuerë reuora, agiã seu auer. E dos
   
q(ue) reuora ouuerë mãdo q(ue) lis teniã seu auer ata q(uan)do
   
agiã reuora. E mãdo q(ue) q(ue)n q(ue)r que
Line: 18    
tenia meu tesouro ou me(us) tesouros a dia de mia morte
   
q(ue) os de a departir aq(ue)stes dous arcebispos e aq(ue)stes cinq(ue)
   
bispos, assi como suso e nomeado. E mãdo ainda q(ue) se s'asunar
   
todos poderem ou q(ui)serë ou descordia for ent(r'a)q(ue)stes
   
a q(ue) eu mãdo departir aq(ue)stas dezimas
Line: 19    
suso nomeadas, ualia aq(ui)lo q(ue) mãdarë os chus muitos
   
p(er) nõbro. Out(ro)ssi mãdo daq(ue)les q(ue) mia mãda an a departir
   
ou todas aq(ue)lias cousas q(ue) suso nomeadas q(ue) si todos
   
se poderë assunar ou q(ui)serem ou descordia for ent(r'e)les ualia
   
aq(ui)lo q(ue) mãdarë os chus muitos p(er)
Line: 20    
nõbro. Mando ainda q(ue) a raina e meu filio ou mia filia
   
q(ue) no meu logar ouuer a reinar se a mia morte ouuer reuora e meus
   
uassalos e o abade d'Alcobaza sen demorancia e sen (con)t(ra)dita
   
lis den toda mia meiadade e todas as dezimas e as out(ra)s cousas suso
   
nomeadas
Line: 21    
e eles as departiã assi como suso e nomeado. E ssi a mia
   
morte meu filio ou mia filia q(ue) no meu logar ouuer a reinar ouuer
   
reuora, mãdo empero q(ue) aq(ue)stes arcebispos e aq(ue)stes bispos
   
departiã todas aq(ue)stas dezimas e todas aq(ue)stas out(ra)s cousas
   
assi como suso e no-
Line: 22    
meado. E a raina e me(us) uassalos e o abade sen demorãcia
   
e sen (con)t(ra)dita lis den toda mia meiadade e todas as dezimas e as
   
out(ra)s cousas q(ue) teiuerë, assi como suso e dito. E ssi dar
   
li as q(ui)serem, rogo [o]s*6 arcebispos e os bispos com'eu en eles (con)fio
   
q(ue) eles o demãdeni pe-
Line: 23    
lo apostoligo e p(er) si. E rogo e prego meu senior o apos-
   
toligo e beigio a t(er)ra ante seus pees q(ue) pela sa santa piadade faza
   
aq(ue)sta mia mãda seer (con)p(ri)da e aguardada, q(ue) nenguu
   
agia poder de uinir (con)t(ra) ela. E ssi a dia de mia morte meu filio
   
ou mia filia q(ue) no
Line: 24    
meu logar ouuer a reinar ouuer reuora, mãdo aq(ue)les
   
caualeiros q(ue) os castelos teen de mi en' as t(er)ras q(ue) de mi teem os
   
me(us) riquos omees q(tie) os den a esses meus riq(uo)s omees q(ue)
   
essas t(er)ras teiuerë. E os meus riquos omees den'os a meu filio ou
   
a mia filia q(ue) no
Line: 25    
meu logar ouuer a reinar q(uan)do ouuer reuora, assi como
   
os dariã a mi. E mandei fazer treze cartas aq(ues)ta tal una come
   
outra, q(ue) p(er) elas toda mia mãda segia (con)p(ri)da, das quaes ten
   
una o arcebispo d(e) Bragaa, a out(ra) o arcebispo de Santiago, a
   
t(er)ceira o arcebispo
Line: 26    
de Toledo, a q(ua)rta o bispo do Portu, a q(ui)nta o de Lixbona,
   
a sexta o de Coib(ri)a, a septima o d'Evora, a octaua o de Uiseu, a nouea
   
o maestre do Tëplo, a dezima o p(ri)or do Espital, a undezima o p(ri)or
   
de Santa Cruz, a duodecima o abade d'Alcobaza, a t(er)cia dezima
   
facer*7 guarda[r] en
Line: 27    
mia reposte. E forũ feitas en Coinbria IIII.or dias por andar
   
de Junio. E(ra) M.a CC.a La Il.a.


Item: n. 
Line: 1    
resta a parte inferior do E. ^
Line: 2    
O papa. ^
Line: 3    
Desdobrei a abreviatura mr. em morauidiis e não em morabitnos, por ser a primeira forma a que vem por extenso em A e em A', respectivamente, nas linhas 5 e 6. Nos casos seguintes mantive a abreviatura, por o desdobramento ser o mesmo. ^
Line: 4    
S. Jorge. ^
Line: 5    
Aqui e nas linhas 18 e 19, parece mais entre que entre. ^
Line: 6    
O o desapareceu devido a um furo do pergaminho. ^
Line: 7    
On facei ^




Text: Doc._5a 
Document V A1

A1 - Catedral de Toledo

Archivo, Z. 4. B. 6, or. car., com a suspensão do selo pendente (Est. VII).


On the basis of the edition by
P. Avelino de Jesus da Costa,
Os mais antigos documentos escritos em Português, in:
Revista portuguesa de história, N° 17,
Faculdade de Letras de Coimbra, 1979, pp. 263-340,

electronically prepared by Gisella Ferraresi, Esther Rinke and Maria Goldbach, Hamburg 2005;
TITUS version by Jost Gippert,
Frankfurt a/M, 28.2.2010



* Para se poderem verificar mais facilemente as variantes de A1 em relaçãoa A, dividi o texto de A' de modo a corresponder às linhas de A, numerando, todavia, as linhas do original.



Item: r. 
[Line: 1]    
En'o nome de Deus. Eu rei don Afonso pela gracia de Deus rei
   
de Portugal, seendo sano e saluo, tem(en)te o dia de mia morte a saude
   
de mia alma e a proe de mia molier reina dona Vrr(aca) e de meus
   
filios e de meus uassalos [Line: 2 ] e de todo meu reino fiz mia mãda p(er)
   
q(ue) de-
   
pois mia morte mia molier e meus filios e meus uassalos e meu
   
reino e todas aq(ue)las cousas q(ue) Deus mi deu en poder sten en paz
   
e en folgãcia. P(ri)meiram(en)te mã\do [Line: 3 ] q(ue) meu filio ifan[te] don
   
Sãcio q(ue) ei da reina dona Vrr(aca) aia meu reino enteiram(en)te e
   
en paz. E sse este for
   
morto sen semel, o maior filio q(ue) ouuer da reina dona Vrr(aca)
   
aia o reino enteg(ra)mëte e en paz. [Line: 4 ] E sse filio baron ouu(er)m(os),
   
a maior filia q(ue) ouu(er)m(os) aia'o. E sse no tëpo d(e) mia morte
   
meu filio ou mia filia q(ue) deuier a reinar ouuer reuora, seia en poder
   
da reina sua madre e meu reino [Line: 5 ] seia en poder da reina e de meus
   
uassalos ata cãdo aia reuora. E sse eu for morto, rogo o ap(osto)ligo
   
como padre e senior e beio a t(er)ra an(te) seus pees q(ue) el receba
   
en sa com(en)da e so seu defendim(en)to a reina [Line: 6 ] e meus filios e o reino.
   
E sse eu
   
e [a] reina formos mortos, rogoli e p(re)goli q(ue) os meus filios
   
e o reino seiam en sa com(en)da. E mãdo da dezima dos morauidiis
   
e dos dineiros q(ue) mi remas(er)um da parte de [Line: 7 ] meu padre q(ue)
   
en Alcobacia e do outr'auer mouil q(ue) i pos(er)m(os) pora esta
   
d(e)zima q(ue) seia partido pelas manos
   
do arcebispo d(e) Bragaa e do de Santiago e do bispo do Porto
   
e de Lisbona e de Coinbra e de [Line: 8 ] Uiseu e de Lamego e da
   
Idania e d'Euora e de Tui e do tesoureiro de Bragaa. Out(ri)ssi mando
   
das d(e)zimas das luitosas e das armas e doutras dezimas q(ue) eu tenio
   
apartadas en te-
   
souros per meu rei\no [Line: 9 ] q(ue) eles as departan assi*1 como uiren
   
por guisado. E mãdo q(ue) o abade d'Alcobacia lis de aq(ue)sta
   
d(e)zima q(ue) el ten ou teiu(er) e eles as departan segũdo Deus como
   
uiren por dereito. E mãdo [Line: 10 ] q(ue) a reina dona Vrr(aca) aia a meia-
   
dade de todas aq(ue)las cousas mouils q(ue) eu ouu(er)
   
a mia morte, exetes estas d(e)zimas q(ue) mãdo dar por mia alma
   
e as outras q(ue) tenio en uoontade por dar por mia alma [Line: 11 ] e non'as
   
uiier a dar. E mãdo q(ue) se a reina dona Vrr(aca) morrer en mia
   
uida q(ue) de todo meu au(er) mouil aia ende a meiadade. Da outra
   
mia meiadade solten ende p(ri)meiram(on)te [Line: 12 ]
   
mias deuidas todas e do q(ue) remas(er) facan ende tres partes
   
e as duas partes aian meus filios e mias filias e departans' antr'eles igual-
   
m(en)te. E da t(er)ceira o arcebispo d(e) Bragaa e u d(e) Sãtiago
   
e u bispo do Porto e u de Lisbona e u d(c) Coinbra e u de
   
Uiseu e u d'Euora facan ende desta
   
guisa: q(ue) u q(ue)r q(ue) eu moira, q(ue)r en meu reino q(ue)r
   
fora de meu reino, facan aduz(er) meu corpo p(er) mias c(us)tas a Alco-
   
bacia. [Line: 14 ] E mãdo q(ue) den a meu senior o papa III m(o)r(auidiis)*2,
   
a Alcobacia II mr. por meu añiu(er)sario, a Santa Maria de Rocama-
   
dor II mr. por meu añiu(er)sario,
   
a Santiago d(e) Galiza II CCC mr. por meu añiu(er)sario, ou [Line: 15 ]
   
cabidoo da Séé da Idania I mr. por meu añiu(er)sario, ou moesteiro
   
d(e) San lorgi D mr. por meu añiu(er)sario, ou moesteiro d(e) San
   
Uicëte d(e) Lisbona D. mr. por meu añiu(er)sario, ous conigos d(e)
   
Tui [Line: 16 ] I
   
mr. por meu añiu(er)sario. E rogo q(ue) cada uno destes
   
añiu(er)sarios facan semp(re) en dia d(e) mia morte e facan tres come-
   
moraciones en tres partes do ano e cada [d]ia facan cantar una missa
   
por [Line: 17 ] mia alma por sëp(re). E se en mia uida der estes añiu(er)sarios,
   
mãdo q(ue) oren por mi co-
   
me por uiuo ata en*3 mia morte e depois mia morte facan estes
   
añiu(er)sarios e estas come\moraciones [Line: 18 ] assi como susu e nomeado,
   
assi como fazen en outros logares u ia dei meus añiu(er)sarios. [Line: 19 ]
   
E mãdo q(ue) den ou maestre e ous fraires d'Euora D mr. por mia alma
   
e ou com(en)-
   
dador e ous fraires de Palmela D mr. por mia alma. E mãdo
   
q(ue) o q(ue) eu der daq(ue)sta mãda en mia uida q(ue) non'o busq(ue)
   
nëgũu d(e)pois mia morte. E u q(ue) remas(er) daq(ue)sta mia t(er)-
   
cia [Line: 20 ] mãdo que seia partido igualm(en)te en ciq(ue) partes das q(ua)es
   
una den a Alcobacia u
   
mãdo ieitar meu corpo. A outra ou moesteiro d(e) Santa,
   
a t(er)ceira ous Tëpleiros, a q(ua)rta ous Espitaleiros, [Line: 21 ] a q(ui)nta
   
den por mia alma o arcebispo d(e) Bragaa e u d(e) Santiago e us ciq(ue)
   
bispos q(ue) susu nomeam(os) segũdo Deus. E den ende ous omees
   
d'ordin
   
d(e) mia casa e ous leigos a q(ue) eu n(on) galardo\ei [Line: 22 ] seu s(er)uicio
   
assi com'eles uiren por guisado. E as outras duas partes d(e) toda
   
mia meiadade seian d(e)partidas igualm(en)te antre meus filios e mias
   
filias q(ue) ouu(er) da reina dona Vrr(aca) assi co\mo [Line: 23 ] susu e nomeado.
   
E mãdo q(ue) aq(ue)st'auer
   
dos meus filios q(ue) o tenian aq(ue)stes dous arcebispos c(um)
   
aq(ue)stes ciq(ue) bispos ata q(ua)ndo aian reuora. E a dia de mia
   
morte, se alguno d(e) meus filios ou\uer [Line: 24 ] reuora, aian seu au(er). E dos
   
q(ue) reuora ouueren mãdo q(ue) lis tenian seu au(er) ata q(ua)ndo
   
aian reuora. E mãdo q(ue) q(ue)n q(ue)r q(ue)
   
tenia meu tesouro ou meus tesouros a dia d(e) mia mor\te [Line: 25 ] q(ue)
   
os de a departir a aq(ue)stes dous arcebispos e aq(ue)stes cinq(ue)
   
bispos assi como susu e nomeado. E mãdo ainda q(ue) se s'asuar
   
pod(er)en ou q(ui)s(er)en ou discordia for antr'aq(ue)stes a q(ue)
   
eu mãdo [Line: 26 ] d(e)partir aq(ue)stas dezimas
   
susu nomeadas, ualia aq(ui)lo q(ue) mãdarë os ch(us) muitos
   
p(er) nõbro. Out(ri)ssi mãdo daq(ue)les q(ue) mia mãda an a d(e)-
   
partir ou todas aq(ue)las cousas q(ue) susu nomeadas q(ue) se [Line: 27 ]
   
todos n(on) se pod(er)en asuar ou n(on) q(ui)s(er)en ou descordia for
   
antr'eles ualia aq(ui)lo q(ue) mãdaren os ch(us) muitos p(er)
   
nõbro. Mãdo ainda q(ue) a reina e meu filio ou mia filia q(ue)
   
no meu logo ouuer a rei\nar, [Line: 28 ] se a mia morte ouu(et-) reuora e meus
   
uassalos e u abad(e) d'Alcobacia sen d(e)morancia e sen (con)tradita
   
lis den toda mia meiadade e todas as d(e)zimas e as outras cousas susu
   
nomeadas [Line: 29 ]
   
e eles as departan assi como susu e nomeado. E se a mia morte
   
meu filio ou mia filia q(ue) no meu logo ouu(er) a reinar ouuer
   
reuora, mãdo enp(er)o q(ue) aq(ue)stes arcebispos e aq(ue)stes bispos
   
d(e)partã [Line: 30 ] todas estas d(e)zimas e todas estas cousas outras assi
   
como suso e no-
   
meado. E a reina e meus uassalos e u abade sen d(e)morancia
   
e sen (con)tradita lis den toda mia meiadade e todas as dezimas [Line: 31 ]
   
e as outras cousas q(ue) teiuerem assi como susu e dito. E se dar
   
las q(ui)s(er)en, rogo os arcebispos e os bispos com'eu en eles (con)fio
   
q(ue) clos o demãden pe-
   
lo ap(osto)ligo e p(er) si. E rogo e p(re)go meu senior [Line: 32 ] o ap(osto)-
   
ligo e beyio a t(er)ra ante seus pees q(ue) pela sa s(an)c(t)a piedade
   
faca aq(ue)sta mia mãda seer (con)p(ri)da e aguarda, q(ue) nëgũu
   
aia pod(er) d(e) uenir (con)tra ela E se a dia da mia morte [Line: 33 ]
   
meu filio ou mia filia q(ue) no
   
meu logo ouu(er) a reinar ouu(er) reuora mãdo a aq(ue)les
   
caualeiros q(ue) os castelos teen de mi en' as t(er)ras que d(e) mi teen
   
os meus ricos omees q(ue) os [Line: 34 ] den a esses meus ricos omees q(ue)
   
essas t(er)ras teiu(er)en. E os meus ricos omees den'os a meu filio
   
ou a mia filia q(ue) no
   
meu logo ouu(er) a reinar q(ua)ndo ouu(er) reuora assi como os
   
da\rian [Line: 35 ] a mi. E mãdei faz(er) treze cartas aq(ue)sta tal una
   
como a outra q(ue) p(er) elas toda mia mãda seia (con)p(ri)da, das
   
q(ua)es ten
   
una o arcebispo d(e) Bragaa, a out(ra) o arcebispo*4 de Santiago. a ter-
   
ceira [Line: 36 ] o arcebispo
   
d(e) Toledo, a quarta o bispo do Porto, a q(ui)nta o d(e) Lisbona,
   
a sex(ta) o d(e) Coibra, a septima o d'(E)uora, a octaua o d(e)
   
Uiseu, a nona o maestre do Tëplo, a d(e)cima o p(ri)or do Espital,
   
a ũd(e)ci\ma [Line: 37 ] o p(ri)or de Santa , a duodecima o abade d'Alcobacia,
   
a t(er)cia decima faco eu aguardar en
   
mia resposte. E foron feitas en Coinbra III.or dias por ãdar
   
d(e) Iunio E(ra) M.a CC.a L.a II.a.


Item: n. 
Line: 1    
Parece mais al si do que assi. ^
Line: 2    
Desdobrei a abreviatura mr em morauidiis e não em morabitinos, por ser a primeira forma a que vem por extenso em A e cm A1, respectivamente, nas linhas 5 e 6. Nos casos seguintes mantive a abreviatura, por o desdobramento ser o mesmo. ^
Line: 3    
No texto: atren. ^
Line: 4    
No texto está a abreviatura arch, que deveria corresponder a archiepiscopo, mas preferi desdobrar em arcebispo, porque é assim que está em A. Nos casos análogos anteriores, tanto A como A1, usaram sempre a palavra arcebispo. ^





Text: Vid._Monja 
VIDA DE UMA MONJA

On the basis of the edition by
Ana Maria Martins, in
Revista Lusitana, nova série, N° 4,
Lisboa 1982-83,

electronically prepared by Gisella Ferraresi, Esther Rinke and Maria Goldbach, Hamburg 2005;
TITUS version by Jost Gippert,
Frankfurt a/M, 28.2.2010




Item: 73r 
[Line: 1]    
[Part: 1. ] Aquy se comeca*1 a vida d'hũa*2 muy sancta mõja*3.

Item: 73v  
[Line: 1]     
[Part: 2. ] Contou hũu padre santo, dizendo que era hũa [Line: 2]   virgem que aproveytara
   
muito ë no*4 amor [Line: 3  ] de Deos, e em seu temor. E preguntey-a que quem*5 [Line: 4]   a
   
trouvera a tam boa conversaçom de vyda. E [Line: 5  ] ella (me) disse*6: ? Ô homë*7 de
   
Deos que tu ees*8, ë\quanto [Line: 6  ] era moça avya meu padre e minha ma\dre [Line: 7]   que eram
   
de desvayradas vidas. [Part: 3. ] Meu padre [Line: 8]   era manso e homildoso e fallava mui
   
poucas [Line: 9  ] vezes. E bem cuidavom, os que o nom conhoç\iam*9, [Line: 10]   que era mudo tam
   
pouca era a ssa fala e [Line: 11  ] elle fraco e doente, ë tal guysa, que poucas vezes [Line: 12]   sse
   
podya erger do leyto e quando se alçar p\odia, [Line: 13  ] hya pera ssa terra e pera sas
   
vinhas. E alá*10 [Line: 14  ] poinha todos seus dias, ë synplinzidade. [Part: 4.]  E [Line: 15]   minha madre
   
era mui coriosa sem maneira. [Line: 16  ] E era de muita fala, quantos hyã e viinham, [Line: 17]  
   
em tal guisa que ssemelhava o sseu*11 corpo todo [Line: 18  ] de lyngoa. E ella cometya
   
muitas vezes ba\ralha [Line: 19  ] todas sas vizinhas e bevia do vinho [Line: 20]   mais que lhe
   
conpria*12. E era mui luxuriosa. E m\uito [Line: 21  ] estragadeyra do que tiinha. E nunca
   
foy [Line: 22  ] doente de pee nem de maão*13; mais ë toda ssa [Line: 23]   vyda foy ssaao*14 seu
   
corpo. [Part: 5. ] E morreo meu padre. [Line: 24]   E tamanhas forã as chuvas ë aquel tenpo [Line: 25]   que
   
morreo e tamanha foy a tenpestade, que seus [Line: 26  ] vizinhos, per tres dias, o nom
   
poderõ soterar*15, [Line: 27  ] atee que lhe o corpo apodreçeo e delle lhe comerõ [Line: 28]   os
   
caaes*16 e diziam os vizinhos que ë como lhe [Line: 29  ] na vida fora mal, que assy lhe
   
ffora mal em na
Item: 74r  
[Line: 1]     
morte. [Part: 6. ] E despois desto, morreu minha madre [Line: 2]   a poucos dias, em seu huso
   
de ssa vida ë como [Line: 3  ] soia de viver. E ao tenpo de ssa morte, ffez tam [Line: 4]   boo
   
tenpo que todos seus amigos a ssoterrarom [Line: 5  ] mui honrradamente. E eu que
   
depois fiquey da mor\te [Line: 6  ] delles, começey de cuidar quaes das vidas filh\arya,
[Line: 7]      
sse a de minha madre ou a de meu padre. [Line: 8  ] E cõsiirey de filhar a de minha
   
madre, que viveo ë [Line: 9  ] sua vida avondada e aa sua morte muito honrra\da. [Line: 10]   [Part: 7.]  E eu
   
? esto estando çarrou-se a nocte. E veo a mi*17 [Line: 11  ] hũũ homë mui grande de corpo
   
e espantoso de sua [Line: 12  ] cara e de sua fala e disse-me: - Que estás coidando? O que
[Line: 13]     
tu estás coidando? Vem ë pos*18 mÿ e sigui-me e eu [Line: 14  ] te mostrarey teu padre e
   
tua madre. E o que cada hũu [Line: 15  ] ha polla vida que fez.[Part:   8.] E foy-me elle e
   
levou-me [Line: 16 ] a hũũ canpo*19 ë no*20 qual avia mui desvairadas [Line: 17]  arvores de
   
desvairados fructos. E ervas muy [Line: 18 ] verdes de desvairadas frores e aves que
   
cantavã [Line: 19 ] ë desvairadas maneyras. E muy fremosas, qual [Line: 20]  lyngua d'homë nom
   
poderia dizer. [Part: 9. ] E ally vy eu [Line: 21]   estar meu padre que veo a mÿ. E abraçou-me. E
   
eu [Line: 22  ] lhe rrogava*21 que me leixasse ficar cõsigo. E el me disse: [Line: 23]   - he ainda
   
tenpo, mais se o meu caminho seg\uires, [Line: 24  ] çedo verras*22 aqui. E aquel que me
   
ally trouvera*23 [Line: 25]   me disse: - Anda e hir-t'ey mostrar tua madre, e fui a\diante [Line: 26]   a
   
hũũ vale, e vy hũa cova mui negra e mui [Line: 27  ] espantosa e tamanho era hy o bater
   
dos dentes e [Line: 28  ] o choro e os braados que se nom podiam hi ouvir [Line: 29]   huũs os
   
outros. [Part: 10. ] E vi minha madre jazer a\tolada [Line: 30]   ë fogo, atee os olhos, e desvairados
   
verm\ëës [Line: 31  ] que a
Item: 74v  
[Line: 1]     
comiam de cada parte. E ella começou [Line: 2  ] a braadar e dizer: -Filha minha
   
nenbra-te da cria\çom [Line: 3  ] que fiz em ty e a door que ouve contigo e da\me [Line: 4]   a maão
   
e tira-me deste logar, ca atormenta\da [Line: 5  ] soo*24 assy como vees. E eu chorava do
   
que via. [Line: 6  ] [Part: 11.]  E em esto estando espertey-me e achey-me em [Line: 7]   meu logar e
   
cuidey em mÿ pera escolher a vi\da [Line: 8  ] de meu padre. E per este emxenplo
   
pode\mos [Line: 9  ] ëtender que aquelles que em este mundo sofrë [Line: 10]   pena e tribulaçom
   
com paciençia, que melhor [Line: 11  ] baratam que aquelles que se lançam ao prazer da
   
carne, e a vyver em luxuria...


Item: n.  
Line: 1     
comeca] JJN começa. ^
Line: 2     
d'hüa] dhüa, JJN de hüa. ^
Line: 3     
mõja] JJN monja (comportamento sistemático em Nunes, que deixo de anotar). ^
Line: 4     
? no] JJN em no. ^
Line: 5     
preguntey-a que quem] pgunteya q quem, JJN preguntey-a (que) quem. ^
Line: 6     
ella (me) disse] me em letra e tinta diferentes, sobre rasura ilegível. ^
Line: 7     
hom?] JJN homem (comportamento sistemático em Nunes, que deixo de anotar). ^
Line: 8     
Deos que tu ees] ds (...) q tuees: rasura de três letras; a primeira parece abrev. de con-, a segunda, mais dificil de identificar, talvez um -t-, a terceira um -m; JJN deos (que) dizem que tu és. ^
Line: 9     
conhoçiam] JJN conhociam (comportamento sistemático em Nunes, que deixo de anotar). ^
Line: 10     
E alá] Eeala, JJN E alá. ^
Line: 11     
sseu] JJN seu. ^
Line: 12     
conpria] JJN compria. ^
Line: 13     
maão] JJN mãao (comportamento sistemático em Nunes, que deixo de anotar). ^
Line: 14     
ssaao] JJN sãao. ^
Line: 15     
soterar] JJN soterrar. ^
Line: 16     
caaes] JJN cãaes. ^
Line: 17     
mi] JJN mym. ^
Line: 18     
? pos] JJN em pós. ^
Line: 19     
canpo] JJN campo. ^
Line: 20     
? no] JJN em no. ^
Line: 21     
rrogava] Rogava, JJN rogava. ^
Line: 22     
verras] JJN verrás. ^
Line: 23     
trouvera] tuuera: o entrel. sobre tu. ^
Line: 24     
soo] JJN sõo. ^





Text: Vid._Tars.  
VIDA DE TARSIS

On the basis of the edition by
Ana Maria Martins, in
Revista Lusitana, nova série, N° 4,
Lisboa 1982-83,

electronically prepared by Gisella Ferraresi, Esther Rinke and Maria Goldbach, Hamburg 2005;
TITUS version by Jost Gippert,
Frankfurt a/M, 28.2.2010




Item: 66r  
[Line: 1]     
[Part: 1. ] Aquy se começa a vida de Tarssis molher que [Line: 2]   foy muyto peccatriz*1.

Item: 66v  
[Line: 1]     
[Part: 2. ] Hũa mançeba*2 foy do mundo que chamavã*3 [Line: 2]   Tarsis e era de tamanha
   
fremosura que muitos [Line: 3  ] venderõ os beës*4 que avyam por ella e veerom
   
a [Line: 4  ] mui *5 gram pobreza e (e)ram*6 tantos amadores que ha [Line: 5]   amavom
   
que muitos moryam por ella e faziam [Line: 6  ] grandes pellegas*7. Quando
   
esto soube o abbade [Line: 7  ] Paunucio*8 ouve grande doo ë seu coraçõ*9 della [Line: 8]  
   
e filhou panos de sagral por prezo de seu peca\do [Line: 9  ] e chegou aa porta
   
della e disse-lhe: - Quero cõti\go [Line: 10  ] *10 fazer minha vontade. [Part: 3.]  E ella lhe
   
disse que [Line: 11  ] entrasse pera dentro e ëtrou na primeira casa e a\charom
[Line: 12]      
hũũ leyto mui boo de muitos panos [Line: 13  ] de grande vallor. E o abbade lhe
   
disse: - A hy *11 [Line: 14  ] outra casa mais escusada e ascondida? [Part: E]  ella [Line: 15]  
   
dise *12: - Ha, e queres que nos vaamos pera ella? E el di\sse: [Line: 16  ] - Ssy.
   
E ella dise: - Sse dos homeës as*13 vergon\ça [Line: 17  ] aqui te nom veerá nehuũ.
   
E sse de Deos has [Line: 18  ] vergonça, nom ha logar hu sse o homë ascõ\da
[Line: 19]      
ante os seus olhos. [Part: 4.  E] quando o velho esto [Line: 20]   ouvio, dise-lhe: -Sabes
   
quem he Deos? [Part: E ] ella disse: [Line: 21]   - Ssey. E o sseu rreygno *14 e o tormento
   
que averam*15 a\quelles [Line: 22  ] que mal fezerë? [Part: E]  ella disse: - Ssy*16. E o
   
velho [Line: 23  ] lhe disse: -Se esto sabes porque fezeste perder tan\tas [Line: 24]   almas?
   
Que nam tam soomente pella tu\a, [Line: 25  ] mais pellas de muitos que fezeste
   
perder, [Line: 26  ] porq*17 por todas daras*18 conto e rrazom a Deos. \ [Line: 27  ] [Part: 5. ] E ella
   
quando esto ouvio, começou de chorar [Line: 28  ] fortemëte e cayo-lhe*19 aos
   
pees e disse-lhe que lhe [Line: 29  ] desse peendença, e que orasse a Deos por
Item: 67r  
[Line: 1]     
ella e pe\dio-lhe [Line: 2  ] espaço de tres dias e que a cabo*20 de tres [Line: 3]   dias faria
   
qualquer cousa que lhe el mandasse. [Part: 6. ] E [Line: 4]   filhou cem marcos d'ouro
   
e de prata e muito [Line: 5  ] aljofar e muitas outras doas e panos de sirg\o
[Line: 6]      
que tiinha e veo-sse elle aa praça da vila [Line: 7  ] e começou de braadar
   
e dizer: - Vinde veer amado\res [Line: 8  ] do mundo o que eu convosco gaanhey
   
como ho [Line: 9  ] eu aquy queymo e desy po-sse-lhe*21 o ffogo*22 e que\ymou-o
[Line: 10]      
e esto acabado foi-se pera o abbade e o abb\ade [Line: 11  ] lhe mandou fazer huũa
   
çella pequena. a par*23 [Line: 12  ] d'hũũ mosteyro de donas e mandou-lha muito [Line: 13]  
   
bem çarrar que lhe nom leixou sse nom*24 hũa jane\lla [Line: 14  ] pequena per que
   
visse e mandou-lhe que comesse*25 [Line: 15  ] hũu pouco de pom*26 e d'auga cada
   
dia e mais [Line: 16  ] e ësynou-lhe como orasse e dise-lhe: -Tu nom es [Line: 17]  
   
digna de nomear o nome de Deos es digna [Line: 18  ] de alçar as maaos*27
   
contra o çeeo porque*28 os teuos*29 [Line: 19  ] olhcs e os teus beyços e as tuas
   
maaos ou\verom [Line: 20  ] grandes*30 maldades e grandes pecados, [Line: 21]   mais tam
   
ssoomente olha contra ho ouryente [Line: 22  ] e pide assy: - Senhor Deos que me
   
fezeste amerçea-te [Line: 23  ] de mÿ. [Part: 7.]  E ella esteve em aquella casa per tres [Line: 24]  
   
annos*31. E o abbade Panunçio doeu-sse della e foy\sse [Line: 25  ] pera o abbade
   
Antonio e cõtou-lhe todo o feyto [Line: 26  ] e rrogou-lhe*32 que orasse a Deos
   
que lhe mostrasse sse lhe [Line: 27  ] perdoara os sseus pecados. E o abbade
   
Anton\io [Line: 28  ] chamou todos os seus disçipolos e disse-lhes [Line: 29]   que crassem
   
a Deos sse perdoara os pecados aaquela [Line: 30  ] molher. [Part: 8.]  E Paullo o Sinprez
   
o mayor dos diçi\pollos [Line: 31  ] do abbade Antonio vyo viir pello çeeo [Line: 32]   hũu
Item: 67v  
[Line: 1]     
leyto mui bem afeytado de panos preçiosos [Line: 2  ] e ires virgees que o
   
guardavã e Paulo coidou que [Line: 3  ] era o lleyto do abbade Antonio. [Part: 9.]  E hũa
   
voz veo [Line: 4  ] do çeeo que lhe disse: - Nom he do abbade Antonio, [Line: 5]   mais
   
he de *33 Tarsys aquella molher que jaz emçarra\da. [Line: 6  ] E Paullo o cõtou
   
ë outro dia ao abbade Pan\unçio. [Line: 7  ] E o abbade Panunçio foy hu ella
   
jazia [Line: 8  ] e disse-lhe: - Perdoado te tem Deos os teus pecados. [Line: 9]   [Part: E]  ella
   
lhe disse: - Despoys que aqui jaço de todolos [Line: 10  ] meus pecados fige
   
hũa carrega e pugy-a ant(e) *34 [Line: 11  ] os meus olhos e senpre me deles doy.
   
[Part: 10. ] E o [Line: 12]   abbade lhe disse: - Nom te perdoou Deos pella tua [Line: 13]   peen-
   
dença, mais pello teu arrepeendimëto. E ella nom viveo mais XV días*35.
   
E o abba\de [Line: 14  ] vyo hyr a sua alma pera o çeeo gram cõ\panha [Line: 15]   d'angos *36
   
que faziam grande allegria [Line: 16  ] ella. O Ssenhor*37 Deos que a ella per-
   
doou os sseus*38 pe\cados, [Line: 17  ] perdoe a nos*39 os nossos amë. Deo gracias.

Item: n.  
Line: 1     
peccatriz] JJN peccatrix. ^
Line: 2     
mançeba] JJN manceba (comportamento sistemático em Nunes, que deixo de anotar). ^
Line: 3     
chamavã] JJN chamavam (comportamento sistemático em Nunes, que deixo de anotar). ^
Line: 4     
beës] JJN bëes (comportamento sistemático em Nunes, que deixo de anotar). ^
Line: 5     
mui] muj, JJN muy. ^
Line: 6     
(e)ram] aram. ^
Line: 7     
pellegas] JJN pellejas. ^
Line: 8     
Paunucio] JJN Panuncio. ^
Line: 9     
coraçõ] JJN coraçon. ^
Line: 10     
cõtigo] JJN contigo (comportamento sistemático em Nunes, que deixo de anotar). ^
Line: 11     
A hy] ahy, JJN ahy. ^
Line: 12     
diese] JJN disse. ^
Line: 13     
as] JJN ás. ^
Line: 14     
rreygno] Reygno, JJN reyno. ^
Line: 15     
averam] JJN àverám. ^
Line: 16     
ssy] JJN sy. ^
Line: 17     
porque] por q?, JJN por que. ^
Line: 18     
daras] JJN darás. ^
Line: 19     
cayo-lhe] cayolhe, JJN cayo-lhe. ^
Line: 20     
a cabo] JJN acabo. ^
Line: 21     
po-sse-lhe] posselhe, JJN posse-lhe. ^
Line: 22     
ffogo] JJN fogo. ^
Line: 23     
a par] JJN apar. ^
Line: 24     
sse nom] JJN senom. ^
Line: 25     
comesse] comesse. ^
Line: 26     
pom] JJN pam (mas em nota de rodapé registra a forma do ms.). ^
Line: 27     
maaos] JJN mãaos (comportamento sistemático em Nunes, que deixo de anotar). ^
Line: 28     
porque] por q?, JJN por que. ^
Line: 29     
teuos] JJN teus (mas em nota de rodapé regista a forma do ms.). ^
Line: 30     
grandes] JJN gramdes. ^
Line: 31     
annos] años, JJN años. ^
Line: 32     
rrogou-lhe] Rogoulhe, JJN rogou-lhe. ^
Line: 33     
de] JJN do. ^
Line: 34     
ant(e)] e em letra diferente. ^
Line: 35     
E ella nom viveo mais XV días] Eella nom viveo mais XV días (dias em letra e tinta diferentes, sobre rasura ilegível), JJN E ella nom viveo mais de XV dias. ^
Line: 36     
d'angos] dangos, JJN danjos. ^
Line: 37     
Ssenhor] ssenhor, JJN senhor. ^
Line: 38     
sseus] JJN seus. ^
Line: 39     
nos] JJN nós. ^



Copyright TITUS Project, Frankfurt a/M, 25.7.2010. No parts of this document may be republished in any form without prior permission by the copyright holder.